abril 23, 2014

Ela é chata, do tipo que pergunta tudo. Quando eu chego animado com alguma ideia, ela é a primeira a questionar todos os buracos e dizer que se eu não repensá-la, não vai dar certo. Ainda complementa com um “eu gostei, mas…”. Os “mas” dela é que fodem tudo. Sempre tão pontuais e diretos que enxergam os detalhes que eu deixo escapar. E isso não acontece apenas com essas ideias, mas com as histórias que eu conto e com o desenrolar dos fatos do dia a dia. Acho que esse foi mais um dos motivos pra eu sempre contar a verdade pra ela. Quando escondia alguma coisa, nem que fosse uma coisa de nada, ela descobria. Sou louco por ela. O que pra mim poderia ser apenas um detalhe, pra ela era importantíssimo. Ah, ela tem umas outras manias como pegar no meu pé porque eu deixo o pacote de biscoito aberto no armário e a toalha em cima da cama. Diz que eu nunca cresci. Fica conversando com as paredes. Eu rio, mas tem vezes que eu me chateio. A vida não pode ser tão meticulosa assim, não. Tem que rir das falhas, dos deslizes e das histórias mal contadas – isso quando elas puderem ser mal contadas. O pior de tudo? Eu nunca consegui contar uma piada inteira. Eu perco o timing, ela não ri e nada funciona. Quando eu gosto de alguma eu escrevo e mando por whatsapp. Mais seguro e eficiente. Ela é chata, mas sabe. E ri disso. Diz que somos um equilíbrio. Eu, como também gosto de implicar, respondo: perfeita definição, amor!
Eu voltei. E não foi só por amor. Tudo parecia diferente. Quer dizer, parecia que em diversos aspectos tínhamos voltado à estaca zero e estávamos nos conhecendo de novo. O que era uma grande bobagem, se você pensar direito. E o que é uma verdade maior ainda, se você pensar melhor. Voltar era como se estivéssemos entrando numa casa em que já tínhamos morado, mas com a certeza de que algumas coisas não estariam no mesmo lugar. É claro que, sem uma reforma, os cômodos ainda seriam os mesmos. Talvez a decoração é que já poderia ter mudado. Enfim, a sensação era de conhecer aquilo tudo e ao mesmo tempo esperar para ser surpreendido. E estar ali já era uma surpresa. Foi preciso aceitar muita coisa. Primeiro, eu carregava uma certeza de que a vida tinha seguido de algum modo do lado de lá. E, claro, você não quer ser cobrado pelo o que fez nem ficar dando detalhes da vida que levava longe. Sabia que passamos até pela fase da conquista novamente? A volta, por mais rápida que seja, é feita com a recuperação da confiança, com o restabelecimento das certezas de que o outro é, sim, quem você quer. Aquela coisa de cortejar, mandar flores (sem ser por desculpas), paparicar, sentir frio na barriga por causa do beijo. Tudo reapareceu. Demos sorte, admito. Tivemos, principalmente, que ser francos em relação ao que queríamos. Não poderia mais haver enrolação. Quando disse que não voltei só por amor foi porque apenas esse sentimento não bastava. Existe mais no meio como carinho, respeito, dedicação. E, também, foi preciso entender que nem tudo se ajeita de uma hora pra outra. Eu queria ser o porto seguro. Queria fazer bem, fazer sorrir. Queria, principalmente, me libertar do que tínhamos sido. Não adiantaria remoer os erros passados. Vida nova, esse era o lema. E eu vi verdade do lado de lá. Voltei, mesmo com amigos, parentes e outras pessoas dizendo que era “perda de tempo”. Voltei, mesmo com tanta gente interessante que eu conheci e poderia ter me feito seguir um outro caminho. Voltei, mesmo sabendo do esforço que seria recomeçar. Voltei, e não foi só por amor.