Sobre escrever enquanto assisto as vantagens de ser invisível <3
Não sei muito bem sobre o que falar, na verdade não pensei sobre o que queria escrever quando abri essa página, só sabia que precisava. Sinto no meu peito uma coisa estranha, não parece uma explicação muito esclarecedora, mas soa exatamente de acordo. É complicado quando sentimos que o vazio que nos cerca está na verdade dentro de nós, que ter pessoas ao nosso redor não conforta, não supre, uma falta que nós não sabemos como cessar. É difícil ouvir as risadas, as histórias, os problemas dos outros, quando os nossos parecem estar sempre ali, presentes, e nós não temos a capacidade de resolve-los. Tenho certeza que é mais fácil estar presente nos problemas dos outros, mergulhar de cabeça e tentar entender a dor de outra pessoa, do que lidar com as nossas próprias. O problema é quando nos afastamos das outras pessoas, porque não conseguimos tirar os problemas da cabeça, e falar sobre eles parece repetitivo e exaustante. O vazio, o vazio que nós criamos para nós mesmos, é o que mais dói. Quando preferimos estar distantes de pessoas queridas, simplesmente por perceber que não é preciso estar presentes, que as coisas correm bem e muitas vezes melhores sem a nossa presença. Quando não nos sentimos confortáveis em algum lugar, pensamos em ficar sozinhos, e quando estamos sem ninguém por perto, bate uma necessidade de alguém pra compartilhar. E aí, quando alguém aparece, o que mais queremos é que se afaste, porque notamos imediatamente que a solidão parece um bom modo de disfarçar o silêncio, de ocultar as necessidades de contato e carinho recíproco, de amor, de cuidado, de atenção e principalmente, de sentir falta. Sabe quando alguém te pergunta o que você quer fazer? Quando pensa em fazer algo pra te surpreender? Planeja um dia ou uma noite pra te dar atenção? Não aquela atenção corriqueira do dia a dia, mas que faz sentir especial, que faz a gente se arrumar e querer estar diferente, ajeitadinha, criar expectativa, pra algo que saia da rotina e comemore, sei lá, a vida. O estar junto. O querer estar junto. O agradecer pela presença. As vezes eu me pergunto se a gente ainda lembra de agradecer por alguém que tornou o nosso dia um dia melhor, que alegrou a nossa tarde, que preencheu nosso tédio, que se preocupou com a nossa vida e em nos lembrar dos nossos compromissos. Se agradecemos por alguém que toma conta da nossa vida, do nosso humor, que se importa e que sempre está ali pra estender a mão. Se não deixamos essas poucas pessoas de lado, por bobagens, por compromissos nem tão importantes assim, por egoísmo. Eu sinto um vazio que não se preenche, no momento. Eu sinto uma solidão que dói e conforta. A cada fisgada no peito e lágrimas nos olhos, lembro do amor próprio que eu tenho esquecido de sentir por mim. Não do amor egoísta, mas do amor suficiente pra se por em primeiro lugar. Pra não colocar como prioridade e necessidade na nossa vida a presença constante e a consideração dos outros. Porque a decepção é uma consequência forte, e muitas vezes devastadora. Quando eu lembro de tudo isso, eu digo em voz alta que preciso superar, que preciso ficar bem, que a dor me torna menos tola e mais tolerante comigo mesma. A necessidade de se sentir amada e valorizada não vem enquanto não amarmos a nós mesmos e não nos valorizarmos como devemos. Nós aceitamos o amor que julgamos merecer, e é por isso que devemos ter o discernimento de compreender quando não devemos aceitar mais. Quando devemos agradecer por todas as coisas boas, mas entender que as coisas ruins fazem parte e que o limite chega para todos. Devemos aceitar nosso limite, devemos respeitar o quanto nosso peito e nossa cabeça aguentam, quantas mentiras e decepções eles conseguem lidar e superar. E quando nada disso for superado, quando a angustia continua batendo na porta, quem sabe seja a hora de fechá-la de vez. Aprender a desistir nem sempre é sinônimo de fraqueza, muitas vezes é sinônimo de coragem. E é preciso muita coragem.