maio 25, 2015

Mais de um ano depois eu retorno para meu diário aberto, com o rosto inchado e o gosto amargo do cigarro misturado com as lágrimas que caem sem parar. Me pareceu necessária a lembrança desse espaço em que eu costumava guardar as coisas boas, as ruins, e as que eu simplesmente escrevia para mim mesma, quase que diariamente. Me sinto estúpida por ter apagado grande parte das coisas ruins que eu guardava aqui, em momentos em que eu achava que elas não faziam mais sentido - mas fazem. Talvez se eu tivesse lembrado melhor de como eu me sentia, da angustia sufocante, que não deixa falar direito, não deixa pensar e custa, custa tanto a passar. Eu não sei se eu ainda sei abrir meu coração pelas palavras, só sei que preciso tentar tratar dessa dor que não passa, só se esconde pra voltar em proporção ainda maior. Depois de dois anos e alguns meses eu me pergunto quem por aí sabe como é amar alguém a ponto de não se dar escolha, não se dar valor, não conseguir pesar a balança ao teu favor. Se alguém sabe o quanto machuca ver o outro tão indiferente a ponto de dizer que não importa mais. Se sabe da humilhação que se sente ao pedir para outra pessoa te querer da mesma forma que tu a quer. Eu me sinto sem forças pra brigar sozinha por um amor que eu já acho que não existe mais, e eu já me senti assim tantas vezes que eu tenho medo de não conseguir sair dessa situação, dessa prisão que é querer que alguém te ame e te valorize a ponto de ter medo de te perder. Medo de verdade, medo de dizer as palavras erradas, de dizer que tanto faz porque não é assim, não é. Faz toda a diferença do mundo, as palavras, o cuidado, a luta. A luta diária para que as pessoas não se esqueçam do que significam pra nós, para que quem a gente ama não se sinta desvalorizado ou insuficiente. A luta que vai além do amor, porque é amizade. É consideração, é tato, é carinho, paciência, companhia, força. Eu penso em todas as coisas que eu já relevei, em todas as vezes que eu me senti assim e tudo que o outro fez foi dar as costas e apontar os meus egoísmos, os meus. Eu sou egoísta pra muitas coisas, sou chata, sou impaciente, tudo, mas não sou egoísta com a confiança que depositam em mim, com o amor que me dão, com a consideração dos outros - porque isso não tem preço. Eu amo tanto que me dói na alma, como se eu literalmente pudesse sentir quando o ar não aparece, quando a respiração falha e a voz engasga. Mas eu não posso mais tentar sozinha, eu não mereço outra pessoa, eu mereço amor. Seja da minha família, dos meus amigos, contanto que seja amor que não magoe. Preciso me lembrar do trecho do meu livro preferido que diz: "nós aceitamos o amor que achamos que merecemos". E foi lindo, tantas vezes foi lindo. E são essas coisas que fazem doer, porque nós desejamos todas as coisas ruins se com elas vierem as coisas boas. Mas eu não consigo mais, não sozinha. Difícil perder alguém que se quer do lado pra vida toda. Foi amor.